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Apocalipse 20:10 apoia a doutrina do tormento eterno?

  • Leandro Quadros
  • 28 de fev. de 2016
  • 4 min de leitura


Diz o texto: “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos”.

EM PRIMEIRO LUGAR, precisamos localizar o tempo em que se encontra/ou encontrará o lago de fogo. Para isso, precisamos ler alguns versos do capítulo 20 de Apocalipse:

“Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos” (versos 1 e 2).

“Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar. Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu. O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos” (versos 7-10).


Atente para as palavras em destaque e veja que o lago de fogo (ou “inferno”, como preferem irmãos de outras igrejas) não existe. Ele existirá após os mil anos, depois que Satanás tentar, juntamente com os ímpios ressuscitados (ver Ap 20:4-6), tomar a Cidade Santa (versos 7-9).

Portanto, a crença de que existe atualmente um lugar de tormento dos ímpios, é antibíblica. Então, como entender a expressão “dia e noite, pelos séculos dos séculos” que se refere ao castigo do Diabo e dos ímpios?

Precisamos recordar que a Bíblia foi escrita de uma perspectiva hebraica, não segundo a visão grega ocidental. Desse modo, para compreendermos o que realmente o autor inspirado quis escrever, precisamos ter em mente que ele pensava como judeu, não como ocidental. Assim, precisamos recorrer ao restante das Escrituras para sabermos como essas expressões (“dia e noite, pelos séculos dos séculos”) eram entendidas pelo povo de Deus daquela época.

Veja o que diz sobre o assunto o teólogo Eldon Ladd, reconhecida autoridade protestante, ao comentar Apocalipse 20:10: “Como um lago de fogo literal pode acarretar tortura eterna a seres não físicos é impossível imaginar. É óbvio que se trata de linguagem pitoresca descrevendo um fato real no mundo espiritual: a destruição final e perpétua das forças do mal que têm prejudicado o homem desde o jardim do Éden” (i)

Por sua vez, o teólogo Harold Guillebaud explica do seguinte modo outro texto controvertido e mal interpretado: Apocalipse 14:11: “A cláusula ‘não têm descanso algum, nem de dia nem de noite’ (Ap 14:11) certamente diz que não haverá interrupção ou intervalo no sofrimento dos seguidores da besta, enquanto este continue; mas por si mesma não diz que continuará para sempre” (ii)


Destaco que ambos os teólogos não professam a fé adventista e são apenas dois dos muitos que têm abandonado a crença na imortalidade natural da alma e do “tormento eterno”.

EM SEGUNDO LUGAR, é de fundamental importância compreender que a Bíblia ensina a gradação de castigo, ao invés de um veredicto injusto e desproporcional da parte de Deus. As Escrituras não ensinam que todos os pecadores terão a mesma penalidade: “tormento eterno”.


Textos como Mateus 11:20-24 e Lucas 12:47, 48 não deixam dúvidas de que cada um pagará no lago de fogo “proporcionalmente” às suas obras (ver Mateus 16:27 e Apocalipse 22:12).

É totalmente contra o sistema de juízo divino dar ao Diabo – o pai do pecado (Jo 8:44), destruidor de vidas (1Pe 5:8) que levou muitos a pecarem – a mesma punição que será dada a um ser humano que pecou durante 80 anos e não aceitou a Cristo. Apenas como um exemplo, seria o mesmo que um juiz condenar um ladrão de galinhas à prisão perpétua, do mesmo modo que um assassino que mata suas vítimas à sangue frio.

Não comentei outros aspectos como, por exemplo, o ensino bíblico da inconsciência durante a morte (Jó 14:21; Sl 6:5; 88:19-12; 115:17; Jr 51:57; Dn 12:2, 2; 1Ts 4:13, etc.) até o retorno de Cristo quando ocorrerá a ressurreição para a vida e para a morte eterna (1Ts 4:13-18; Jo 5:28, 29; Ap 20:4-6, etc.). Entretanto, este é outro fator a ser considerado na avaliação de Apocalipse 20:10.

Para quem quiser se aprofundar neste assunto, recomendo uma das obras mais importantes no meio teológico sobre o tema, escrita por um advogado e teólogo evangélico, Edward William Fudge, na qual ele refuta todos os argumentos imortalistas e reexplica os textos mal interpretados por eles. O título do livro é "The Fire That Consumes: A Biblical and Historical Study of the Doctrine of Final Punishment" (“O Fogo Que Consome: Um Estudo Bíblico e Histórico da Doutrina da Punição Final”), e foi publicado pela primeira vez em 1982. Pode ser adquirido pelo site Amazon.com clicando aqui.

Como não é de interesse que o público evangélico e católico no Brasil conheça o referido material, nenhuma editora protestante ou católica se propôs, até o dia hoje, em traduzir este livro... Com certeza, esta obra traria muitos problemas para os teólogos imortalistas brasileiros que não estão dispostos ainda a abandonar conceitos gregos sobre a natureza humana. Afinal, seria muito trabalhoso refutar o estudo do Dr. Fudge e convencer aos irmãos de que ele está errado.


REFERÊNCIAS


(i) George Eldon Ladd, "A Commentary on the Revelation of John" [Grand Rapids, MI: 1979], p. 270.


(ii) Harold E. Guillebaud, "The Righteous Judge: A Study of the Biblical Doctrine of Everlasting Punishment" [Tauton, Inglaterra, s.d], p. 24.


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Leandro Quadros, apresentador da Rede Novo Tempo, programa Na Mira da Verdade.

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