Debate sobre a imortalidade da alma - Parte 1
- Leandro Quadros
- 2 de mar. de 2016
- 3 min de leitura

Introdução
Há algum tempo recebi os comentários de um irmão, doutor em Teologia, que crê na imortalidade natural da alma e, consequentemente, no “tormento eterno”. Logo abaixo transcrevo a resposta dada a ele para lhe ajudar, leitor (a), a ter uma metodologia a mais para a compreensão e ensino da doutrina bíblica da imortalidade condicional da alma[1], e consequente aniquilação dos ímpios.
Entre outras coisas, ele alegou que o que apresentei no programa “Na Mira da Verdade” era um ensino “herético”, não bíblico. Para comprovar sua alegação, citou textos como Mateus 10:28, Lucas 16:22, 23:43, 16:22, Filipenses 1:23 e Apocalipse 6:9 e 14:11. Além disso, afirmou que o “aniquilacionismo” (crença de que os maus serão totalmente aniquilados ou destruídos) apresenta a Deus como sendo incapaz de resolver o problema do pecado.
A resposta começará meio “seca”, porém, isso se dará porque tirei a saudação inicial e fui direto ao ponto neste post. Oro para que este bom debate (para o qual ainda não tive retorno) lhe seja útil.
Parte 1
Diversos teólogos têm mudado de opinião quanto à imortalidade natural da alma por perceberem que a antropologia bíblica é bem diferente da antropologia grega, que infelizmente acabou influenciado o cristianismo. Creio que ao apresentar alguns desses teólogos, isso o ajudará a perceber que minha abordagem ao tema no programa “Na Mira da Verdade” não é herética, mas partilhada por teólogos protestantes (e católicos) bastante conhecidos no meio acadêmico.
Em 1956, Oscar Cullmann (Luterano) em uma conferência apresentada na Capela Andover, Universidade de Harvard, argumentou que o entendimento de Platão a respeito da imortalidade da alma, e o ensino cristão da ressurreição dos mortos são totalmente antagônicos. Entre outras coisas, ele afirmou:
“A antropologia do Novo Testamento não é grega, mas está conectada com as concepções judaicas. Para os conceitos de corpo, alma, carne e espírito […], o Novo Testamento usa, sem dúvida, as mesmas palavras que os filósofos gregos. Mas elas significam algo bem diferente, e compreendemos todo o Novo Testamento distorcidamente, quando construímos conceitos apenas do ponto de vista do pensamento grego. Muitas incompreensões surgem assim”.[2]
Ele destaca que “nós não somos libertados do corpo [afinal, ele é considerado do “templo do Espírito”, não a “prisão da alma”, como ensinava Platão – ver 1Co 6:19,20]; pelo contrário, o próprio corpo é libertado […] A alma não é imortal. Deve haver ressurreição para ambos; pois desde a queda o homem todo ser está ‘permeado pela corrupção’”.[3]
À luz da antropologia bíblica que, segundo Cullmann (entre outros que mencionarei) é holística, ao invés de dualística ou tricotomista, podemos compreender melhor (novamente citando o referido teólogo) textos paulinos mencionados pelo irmão em seu e-mail:
“Nem o que foi dito na cruz: ‘Hoje estarás comigo no paraíso’ (Lc 23:43), nem na parábola do homem rico, onde Lázaro é levado diretamente ao seio de Abraão (Lc 16:22), nem as palavras de Paulo: ‘Tendo o desejo de partir e estar com Cristo’ (Fp 1:23) provam, como se pretende frequentemente, que a ressurreição do corpo ocorre imediatamente após a morte do indivíduo. Em nenhum desses textos há nem mesmo uma palavra sobre a ressurreição do corpo. Em vez disso, essas cenas distintas descrevem a condição daqueles que morreram em Cristo antes do Fim – o estado intermediário no qual eles, bem como os vivos, se encontram. Todas essas cenas expressam simplesmente uma aproximação especial a Cristo, na qual se encontram aqueles que morreram em Cristo antes do Fim. Eles estão ‘com Cristo” ou ‘no paraíso’ ou no ‘seio de Abraão’ ou, de acordo com Apocalipse 6:9, ‘sob o altar’. Todas estas expressões representam simplesmente uma proximidade especial com Deus. Porém, a linguagem mais usual para Paulo é: ‘Eles estão dormindo’”.[4]
Leia a segunda parte clicando aqui.
NOTAS E REFERÊNCIAS
[1] A imortalidade condicional ensina que o ser humano foi criado imortal, porém, havia uma condição para que pudesse continuar a viver para sempre: ligação íntima com Deus, a fonte de vida, e obediência a Ele (ver Gn 2:16, 17; 3:19, 22-24).
[2] Oscar Cullmann, Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos Mortos? O Testemunho do Novo Testamento (Artur Nogueira, SP: Centro de Estudos Evangélicos, 2002), p. 24.
[3] Cullman, Imortalidade da Alma ou Ressureição dos Mortos?, p.p. 26, 27.
[4] Ibid., p.p. 36, 37.
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